Consumo e Produção de Lixo
Lixo e consumo: retrato do que somos?
A imensa quantidade de resíduos sólidos produzidos no Brasil e no mundo exige a invenção de outras formas de se consumir e produzir
Por Carolina Cantarino
Reciclagem, consumo consciente, sustentabilidade, responsabilidade social – palavras e conceitos que fazem parte de um vocabulário cada vez mais desgastado em torno da necessidade de se rever as práticas de consumo que marcam o mundo contemporâneo e a imensa quantidade de lixo que estamos produzindo. Segundo o Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil, publicado pela Abrelpe (Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais), foram produzidos 60,8 milhões de toneladas de lixo no país, só no ano de 2010.
Slogans como “cada um faz a sua parte” compõem o marketing de empresas e indústrias. A reciclagem, por sua vez, tende a ser apontada como a principal solução para o problema, enquanto a produção do lixo tende a ficar em segundo plano ou sequer ser discutida. “A reciclagem é um bom conceito. Mas não adianta investir nisso sem, ao mesmo tempo, questionar o modelo de produção e consumo que temos, e que ainda é o da aquisição e descarte permanente de produtos. É como se a reciclagem funcionasse como garantia de que é possível consumir mais e mais”, diz Luciane Lucas dos Santos, socióloga e pós-doutoranda do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, Portugal.
A obsolescência programada – quando produtos são concebidos pela indústria para se tornarem inutilizáveis num curto prazo de tempo – é expressão da lógica de consumo vigente, marcada pela aceleração, pela busca do novo, pela urgência e pelo desperdício. Paradoxalmente, acumulação e descartabilidade combinam-se na configuração da economia global: enquanto países africanos enfrentam crises humanitárias relacionadas à falta de alimentos e à fome, na Europa e nos Estados Unidos toneladas de carne, legumes e cereais são jogadas no lixo ou mesmo queimadas para que o preço dessas commodities mantenha-se elevado no mercado financeiro.
“A produção de lixo que temos hoje diz muito sobre o nosso modelo de desenvolvimento e, por isso, não é possível pensar o consumo desvinculado da produção”, adverte Luciane, especialista em sociologia do consumo. Por isso, o “cada um faz a sua parte” pode invisibilizar dimensões importantes do consumo tais como o chamado consumo produtivo: a exploração de recursos naturais (terra, minérios, água, ar) pelas grandes corporações na fabricação de produtos destinados ao consumo individual. Aliás, quanto nós sabemos a respeito das cadeias produtivas dos produtos que consumimos? Em que medida nossas escolhas de consumo são “conscientes”? Inventar outras formas de se consumir passa por pensar nessas questões, atentando-se de forma crítica, portanto, para a relação entre produção e consumo.
Medidas que podem ser implantas em nosso dia-a-dia para reduzir a produção de lixo e estimular o consumo consciente:
- Participe de programas de coleta seletiva (conheça o endereço de algumas cooperativas e instituições que trabalham com material reciclável no nosso site);
- Evite comprar legumes, frios e carnes em bandejas de isopor;
- Procure produtos que tenham menos embalagens ou utilize aqueles que tenham embalagem reciclável;
- Quando for comprar presentes, evite a utilização de embalagens em excesso;
- Quando for fazer compras nos supermercados e feiras, leve a própria sacola ou reutilize as sacolinhas das compras como sacos de lixo;
- Evite comprar produtos embalados em pets (garrafas de plástico), preferindo, sempre que possível, garrafas de vidro;
- Compre o suficiente para consumo, evitando desperdício de produtos e alimentos;
- Ponha no prato só o que você realmente for comer;
- Reaproveite sobras de alimentos de outros pratos: a casca de maçã serve para fazer chá, o talo de agrião pode ser utilizado em sopas, o talo de couve pode ser usado em sucos, a folha de cenoura pode ser consumida em saladas ou bolinhos etc;
- Utilize a frente e o verso do papel para escrever;
- Reaproveite vidros de geléia, maionese, massa de tomate etc;
- Participe de bazares e feiras de troca, como as que são organizadas pela Arquidiocese de São Paulo e pela Escola Cooperativa;
- Doe móveis, roupas, utensílios domésticos e brinquedos para instituições beneficentes ou famílias carentes;
- Quando possível, utilize o lixo orgânico para compostagem de jardins e hortas caseiras;
- Controle o uso da água: não deixe a torneira aberta à toa, abra e feche várias vezes, é melhor do que deixar a água correr sem necessidade;
- Desligue a TV se não estiver realmente assistindo e a luz do lugar onde não houver alguém.